7.14.2007

Reserva II - Sala do Colecionador


Anjos, exus e semideuses são animais míticos que parecem ter coisas em comum. São seres fantásticos criados pelos humanos para que estes pudessem ter um interlocutor nas relações com as forças essenciais da criação, o Demiurgo. Maravilhosos, trazem aos homens uma fagulha de compreensão e entendimento do mundo material e da lida terrena. Em alguns casos, intermediam as passagens para o que, talvez, esteja num mundo além. É relatado na história das mitologias que alguns desses seres desafiaram seus Deuses superiores, com o intuito de tomar-lhes o conhecimento e a razão e pudessem, eles mesmos, conceder aos humanos a plena compreensão dos planos divinos e o total entendimento do mundo. Foram por isso duramente castigados.

São Miguel é um anjo. O anjo mais próximo e fiel ao Deus dos cristãos. Aparece citado na Bíblia, no Antigo e Novo Testamento. Seu nome, traduzido, tem o significado, ou quer disser “Quem é como Deus?”. O Anjo sabe e ensina. São como Santos, mensageiros de Deus, e desempenham uma missão especial em nosso favor. São defensores do corpo e da alma, em todos os perigos terrenos.

A intervenção criada pelos artistas participantes da II Oficina do Projeto Território Reserva II - Sala do Colecionador trabalha a vitrine que guarda a imagem de São Miguel Arcanjo, pertencente ao acervo do Museu Mineiro. A imagem desse belo exemplo da arte barroca brasileira havia sido objeto de estudo na monografia* realizada por uma das profissionais responsáveis pela conservação do acervo do Museu Mineiro, a restauradora Raquel Teixeira, o que tornou a peça uma das mais documentadas da Casa. Deste modo, o grupo de artistas, guiando seus interesses em direção à pesquisa como material de trabalho, e somando-a às suas próprias memórias e outros dados acerca da representação do Anjo, tornaram o material acadêmico como material plástico para a execução da intervenção. Fazendo recortes de trechos dos conteúdos científicos, simbólicos e técnicos existentes naquele importante trabalho e reescrevendo-os em pequenos pedaços de papel, ora azul, ora verde, ora magenta/vermelho, foram, aos poucos, cobrindo a grande vitrine. O objeto constituído e executado pela intervenção nos traz a memória de uma construção que se aproxima do universo dos festejos e folguedos populares. A imagem do Arcanjo, como se estivesse guardada, mas ainda perceptível dentro uma grande lanterna de cor, expande-se ao ser projetada pela luz interna que rompe as frestas existentes entre os pequenos bilhetes - mínimas células de luz e de conhecimento. O espectador curioso poderá colher um pequeno bilhete, ao faze-lo e levando-o consigo, poderá revelar ainda mais o que está dentro da vitrine. Assim, aos poucos, a superfície colorida pelas cores azul, verde e magenta/vermelho que, de maneira poética e simbólica podem ser compreendidas como uma representação da luz, será corrompida, permitindo que a imagem do Anjo possa ser apreciada de forma inteira. No trabalho realizado, o Grupo da II Oficina do Projeto Território, utilizando-se de códigos que são próprios da arte, é tecido uma alegoria na qual a razão e a sensibilidade são os veículos possíveis para uma revelação.

Francisco Magalhães
Diretor Museu Mineiro

* São Miguel Arcanjo: Complexidade de uma policromia, autoria de Raquel Teixeira esta disponível para consultas na Biblioteca da Superintendência de Museus de Minas Gerais ou no site da UFMG

Um comentário:

Anônimo disse...

Suspiremos aliviados.
É só um instante; porque os artistas aqui, coitados já estão com cara de cansados. E eles tiraram pedras da arte o dia inteiro, e outros já levaram a vida inteira.
É tempo de renovar todas as esperanças, as de vida e da arte minha gente! Basta dar uma passadinha no Museu Mineiro e ver o que restou.
O que restou? Acervo Público Mineiro, Arquivos, Memórias Barrocas, Biografias...
Satisfatoriamente poderei usar a palavra novo.
Ao entrar na exposição do Território Mineiro, e subir aquelas escadas percebi algo respirável, potável, um território sem agrotóxicos, uma paisagem abençoada por Deus da Criação.
As artes ali só esperavam para o dia seguinte.
A Arte Contemporânea preenchendo de espectativas e de fé; a mesma fé, confiança e intuição que Maria mãe de Jesus teve durante sua passagem pelo sepulcro. Maria foi preparando o mundo para essa palavra nova; A palavra no tempo, A poesia em "instinção" da qual eu me refiro.
É sério, é importante o assunto que lhe preservo agora; o mundo agradece ao Ariel Ferreira, Camila Gomes, Flávio, Luiz Henrique, Marcela Yoko, Pedro Veneroso, Roberto Andrés, Rosa Araújo, Tales Bedeschi, Walter Trindade e ao Francisco Magalhães já por sua palavra idealizada na nossa história.



Raíssa Machado.
Poetisa da Kaza Vazia - Galeria de Arte Itinerante.