8.06.2007

Reserva III – Coleção Arquivo Público Mineiro


A Coleção Arquivo Público Mineiro é formada pelos objetos que marcaram o surgimento do Museu Mineiro. É um conjunto variado que, na expografia original desta Sala pretendia ser uma mostra da diversidade da Coleção, não se atendo, todavia, na maioria dos objetos que estavam expostos, a uma narrativa museológica com indicações da data, origem, materiais, técnicas e etc. Assim, de alguma maneira, configuravam algo que pelo procedimento adotado na museografia, à maneira como que foram expostos, os aproximou de uma imagem que poderia ser semelhante a um gabinete de curiosidades. Muitos desses objetos estavam apenas nomeados com seus substantivos comuns: cachimbo, armas, caçambas, espadim, relógio de bolso, casco de tartaruga, adaga, sextante...Mas, o que será um sextante? A pergunta que localiza o objeto pelo nome, poderia se estender aos outros, de maneira específica e reformulada, indagar aos demais sobre o por quê desses objetos aqui, neste Museu. Quem os escolheu? A quem pertenceram? Que importância tiveram no panorama cultural de Minas Gerais? Assim expostos eles nos parecem como fragmentos respeitáveis...Relíquias de tempos, de fatos e de personagens que a museografia original não revela, isso, talvez, dado à maneira como eles foram coletados. Saberemos apenas que foram reunidos pelo Arquivo Público Mineiro, no início do surgimento de Belo Horizonte, a partir de 1894, para comporem o acervo matricial de um futuro Museu - o Museu Mineiro.
O Grupo da II Oficina do Projeto Território, ao propor a reorganização da museografia dos objetos da Coleção Arquivo Público, guardando-os em caixas de MDF como se estivessem embalados para serem transportados em uma possível viagem e mantendo nas vitrines as indicações das palavras que os nomeiam, criou algo que permite que nossa capacidade de imaginar, apartada da presença física das peças, poderá plasmar, utilizando-se como matéria as nossas próprias lembranças, as formas e imagens relacionadas a esse acervo. Um jogo no qual a criatividade será o elo entre história e fantasia e nós, distanciados das marcas que impregnaram esses objetos através do tempo, poderemos, partindo de uma memória que tenhamos de objetos similares, de algum outro lugar, em algum tempo, construir uma ficção que os recoloquem no espaço imemorial das coisas – as palavra que os nomeiam. Assim, abrimos a possibilidade do surgimento de um acervo fantástico que abrigará todos os objetos. Todas as espadas, adagas, moedas, armas, selos, medalhas, mapas... de todos os tempos. Com a imaginação, apontaremos o caráter de objetos banais que um dia talvez tenham sido. Um tempo que escapa àquele em que, interrompidos de suas funções no mundo, passaram a constituir relíquias ao serem coletados e cuidadosamente preservadas nas vitrines do Museu Mineiro.


Francisco Magalhães - Diretor Museu Mineiro

2 comentários:

qUEbRApEdRA - Leonora Weissmann disse...

que bacana!
Parabéns a todos envolvidos!
Ficou muito especial esse projeto.
Beijo
Loló

Anônimo disse...

"anônimo",
li o texto e gostei.
é um texto muito rico. Nos dá uma visão geral do projeto e da intervenção específica. E talvez, caiba aos museus, a função de levar ao público informações... que somente as imagens não mostram.
beijus
Anônimo